Doação de Memórias

26-09-2015 00:00

ALHURES, ALGURES

Texto baseado na apreciação do filme "O doador de memórias".
 
Taí,creio ter chegado a uma conclusão sobre o porque aprecio caminhadas e quanto mais longas , mais me fascinam.
Tal disposição só pode ter emergido algures, lá entre meus antepassados maternos, visto que segundo relatos  da mineira Dona Salute, minha mãe, atualmente com 85 lúcidos anos, desde sua primeira infância , várias foram as vezes  em que junto com a família caminhou de norte a sul , pelo sertão das Minas Gerais.  
Dona Leontina, minha avó materna teve seu primeiro dos oito filhos, aos treze anos, todos em sua moradia simples, porém cercadas pela atenção das outras mulheres, da família e da vizinhança . Cabocla de bem com a vida, foi benzedeira e parteira.
Por vários anos viveram em suas terras lá pelas bandas de Montes Claros, Minas Gerais. Alimentavam-se do que produziam ; as galinhas ciscavam e complementavam com ovos a quantidade vitamínica necessária para tanto caminhar, sendo que o excedente da produção, era permutada com os vizinhos de outros sítios, que criavam gado de corte e de leite.
Na divisão das tarefas no sítio, enquanto os pais cuidavam das plantações juntamente com os filhos maiores, os menores ficavam em casa se cuidando e preparando a comida que devia ser levada aos pais, alguns quilômetros  á frente.
Várias foram as vezes em que tiveram que correr e muito, de boi brabo ao passar por algum pasto, porém outras vezes era possível laçar algum alazão e galopar qual um guerreiro se aventurando pelo campo, colhendo gabiroba, balançando-se em galhos de árvores e se jogando de peito aberto nas límpidas águas ribeirinhas que margeavam as terras.
Procurando sempre manter a família unida, mesmo  quando as adversidades temporais emergiam , então era hora de levantar acampamento, colocar os trens no saco, preparar o embornal para os primeiros reclamos do estômago e pôr os pés na estrada á procura da sobrevivência da família,  agora capenga.
Alguns dias e noites de caminhada, sendo que os filhos maiores ajudavam os menores na travessia de largos rios caudalosos  e a mãe com seu bebê amarrado nas costas, confiava nos homens da família para a travessia segura.
Enfim se avista um povoado ao longe, onde um caminhão tipo bóia-fria os levaria para a capital paulista na Hospedaria dos Imigrantes, cujo destino era  a cidade interiorana de Cabrália Paulista, através da simpática Maria Fumaça, o trem da época, um deleite para todos.
Na cidade da Alta Paulista os aguardava um parente para os acompanhar até uma fazenda onde cuidariam de uma lavoura, sua especialidade.
Entre idas e vindas os anos cinqüenta os encontram adultos e cada um caminhando ao encontro de seu destino.  
 
Caríssimos leitores,
Vivemos um tempo em que TUDO tem valor de mercado!
Acredito que nossa função, mais do que nunca agora que alcançamos a chamada Terceira Idade e ou Adultos Maiores que somos e que já sedimentamos toda nossa experiência de vida  em nossa memória; memória esta que nos permitiu sobreviver até presentemente, temos o dever de estar sempre conversando e contando estas experiências para nossos parentes mais jovens, sejam filhos, netos, bisnetos e amigos também.
Hoje vivemos na Sociedade da Informação, porém Informação você consegue de várias maneiras, ou seja, através da internet, dos jornais, nas bibliotecas. Porém informação não é experiência e pessoas que não tem experiência  são fácilmente manipuláveis pelo governo e pela mídia. Sejamos todos nós Doadores de Memória para a sobrevivência da Humanidade.