Dentro da Biblioteca
Exercício baseado no estudo de "A Biblioteca de Babel", de Borges.
Dentro da Biblioteca de Babel
Estou agora, desorientado, junto com muitos outros livros, dentro de um carrinho empurrado por um dos bibliotecários, que procura a prateleira certa para cada livro em sessões do mesmo assunto. É uma enorme biblioteca com preceito clássico: em formato de uma esfera, cujo centro cabal é um hexágono e sua circunfêrencia é inacessível, com galerias hexagonais, escadas em espiral, e poço de ventilação no centro, cercado por balaustradas baixissimas. De qualquer hexágono veem-se os andares superiores e inferiores. A distribuição das galerias é invariavel : Vinte prateleiras em cinco estantes de cada lado.
Eu sou um antigo livro de contos infantis dos Irmãos Grimm, escrito no início do século 19. Meu conteúdo são estórias para crianças, mundialmente conhecidas como: Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, Cinderela, Joãozinho e Maria e muitas outras. Em minha juventude me mudei muito, de casa em casa, onde as mamães narravam as estórias escritas em minhas paginas e mostravam as ilustrações para as crianças que entusiasmadas, após o famoso "e viveram felizes para sempre" da estória, pediam bis.
O tempo passou, hoje as crianças preferem as estórias mais violentas, com personagens heroicas voando pelo espaço onde capturam e eliminam os inimigos. As antigas estórias infantis tornaram-se apenas lembranças. Já muito tempo, na casa onde eu morava, ninguém me tirava da prateleira para ler um conto, por isso, observando minhas páginas amarelando aos poucos, me condicionei e estava preparado para morrer. Mas aquela mãe que muitas vezes lia as minhas estórias, agora já uma senhora idosa, quando resolveu me descartar, ficou com pena de jogar-me na lixeira, e assim eu fui entregue aqui na biblioteca, onde agora dentro do carrinho, que é deslocado de pouco em pouco, aguardo que o bibliotecário ache um lugarzinho para mim, na prateleira para leitores infantis. Ouço varios bibliotecários trocando idéias sobre determinadas obras literárias, e alguém que não compreendeu o conteúdo de um livro, procurando um amigo para ler o livro tambem e posteriormente poder ajudar na interpretação do texto. E assim chego a conclusão que as vezes um livro pode não fazer sentido, seja por organização sistemática, símbolos indecifráveis ou lingua desconhecida, a lei fundamental da biblioteca é que todos os livros constam de elementos iguais: as 26 letras do alfabeto, 10 números, o espaço, o ponto, e a virgula.
Sinto que encontrei uma verdadeira "metrópole" de paginas impressas sobre todos os assuntos e em todas as cores e agora não preciso mais angustiar-me com um futuro obscuro, pois aqui terei oportunidade de ser encontrado por pessoas que ainda se interessam em ler minhas estórias, se não forem crianças, talvez sejam vovôs.