Exercício "O Cão Achado"

19-07-2013 21:10

Descrição de personagens

Aparência tranquila mas resoluta, pele morena de um bronzeado permanente, como se nas praias vivesse, (herança árabe), olhos como jabuticabas maduras, combinando com os cabelos negros levemente desalinhados, porte atlético nos seus quarenta e cinco anos e um sorriso tímido mas contagiante, assim é Laurence Cipriano Argor personagem de nossa história.

Formado em engenharia de automação- Mecatrônica- vive às voltas com pesquisas direcionadas à saúde, avesso ao estrelismo mas confiante no seu trabalho, não mede sacrifícios para se manter atualizado. Isso explica sua saída apressada com seus arquivos cheios de anotações dos estudos realizados em sucessivas noites insones.

Foi numa Feira Internacional de Produtos e Equipamentos, Serviços e Tecnologia para Hospitais, Laboratórios, Clínicas e Consultórios que ele encontrou Achado, seu fiel escudeiro, e que tem uma história, no mínimo, interessante. No amplo estacionamento do evento, escondido embaixo de sua furgoneta, trêmulo de frio pois havia chovido torrencialmente, lá estava um Border Collie assustado e ansioso por um aconchego (cães dessa raça são extremamente carinhosos).

Laurence, comovido com a cena, tirou seu casaco para envolver o assustado animal e rapidamente se utilizou do serviço de segurança para que fosse encontrado o dono do cão. Mas, ao final da tarde, nenhum sinal. Diante da inusitada situação optou por levá-lo para sua casa não sem antes avisar os responsáveis pelo evento, caso alguém procurasse o animal.

 

Cão Achado - num primeiro momento Laurence pensou chamá-lo John Lennon, não só em homenagem ao ídolo inglês de sua juventude, mas também pelo seu porte de soldado da guarda britânica. Nas patas dianteiras traz suas brancas luvas, orelhas negras e longas como os enormes chapéus, Seu pelo liso e macio, que brilha como piche, lembra os acessórios do impecável uniforme dos robustos rapazes. Mas isso foi só num primeiro momento, porque assim que entraram na furgoneta para a viagem de volta para Laurence Cipriano, e vida nova para o Cão Achado, isso mesmo, Achado, esse passaria ser o nome. Ele antecipava a alegria que veria no rosto de sua filha, ensimesmada, cujo interior não conseguia tocar, e que talvez com o cão pudesse se aproximar de Marta, tão distante e até fria com ele. Era pois um “achado” esse animal que doravante faria parte de suas vidas. Achado se comporta com se humano fosse. Presta atenção em tudo e emite suas opiniões através de gestos e lambidas. Adora passear e só se conforma quando entende que Algor sai à trabalho com o paletó nos braços e várias grossas pastas com documentos. É hora de ficar fazendo companhia a Marta que ele conhece tão bem. É com ele que a jovem fala quando está triste. Conta-lhe sobre os seus medos, suas ansiedades e ele se sente importante por participar tão intimamente da vida dela. Coloca a cabeça em suas mãos e, de olhos fechados, beija-lhe com muitas lambidas. Ele é de grande porte e, muitas vezes, quer colo. Nesses momentos, deita-se sobre as pernas de Marta só com a metade do corpo e dormita aconchegado. Achado é muito feliz onde está, adora o pessoal da casa, mas se sente inseguro e com medo de ficar sozinho, talvez porque se lembre do martírio que foi sua vida perambulando pelas calçadas imundas, passando fome e sofrendo agressões de pessoas horríveis que não se importavam com sua dor. Por isso, quando percebe qualquer movimento fica ouriçado, intuindo o pior. Mas esse sentimento passa logo, pensando no amor e conforto que recebe como parte da família. Vale lembrar que essa beleza de cão foi abandonado por seus antigos donos que ao se mudarem para um apartamento optaram, por pura maldade, se desfazerem do cão, uma vez que poderiam entrega-lo para adoção.

 

Marta: Jovem sonhadora que ainda não chegou aos vinte anos, mas traz no semblante uma tristeza que não sabe explicar. Pele cor de jambo olhos azuis celestes, herança de sua mãe, cabelos longos e castanhos porte esguio de modelo, mas reservada por natureza.  Seu olhar enigmático e melancólico se perde no horizonte quando se põe a pensar, debruçada na janela com o cão aos seus pés. Seu pai compartilha de sua dor e às vezes sente-se culpado por não ter tomado uma atitude com relação ao seu casamento. Sua mãe, uma cantora lírica, se encontra nesse momento em uma turnê anual de André Rieu pelos Estados Unidos, como uma das solistas do grupo. Em sua análise, apesar de muito jovem, conclui que a situação dos pais desafia qualquer psicanalista, pois como pode duas pessoas tão diferentes, ele às voltas com os robôs e ela sempre enlevada como se em uma estrela cadente estivesse, pudessem encontrar a dosimetria certa para um relacionamento? No seu conflito tenta achar a resposta. O amor tem dessas coisas, dizem que os opostos se atraem talvez esteja aí o grande mistério. Seus pais optaram por viver “juntos”, embora separados pelas constantes viagens de sua mãe mesmo entendendo que seria uma situação difícil de ser entendida pela filha. Marta, tendo herdado o lado artístico da mãe coloca seus sentimentos nas telas muitas vezes molhadas pelas lágrimas que aumentam a beleza e autenticidade dos trabalhos e, com a praticidade herdada do pai, contorna a situação tendo a seu lado Achado seu amigo irmão, enquanto aguarda as “visitas” da mãe que, apesar de muito raras, dão a ela a sensação de ter uma família de verdade. Suas telas são lindas, trazem mensagens profundas, geralmente falando sobre relacionamentos felizes. São os desejos contidos em seu subconsciente.

 

Mensagem: As telas do convívio são feitas de pequenas fibras que vão dando colorido na trama. Essas fibras não têm sentido sozinhas e só aparecem na trama que, por sua vez, só tem vida com a colaboração imprescindível das fibras.

Nenhum homem é uma ilha. Há uma interdependência entre os seres sejam humanos ou não, e só assim a vida tem sentido.

Qualquer sentimento, bom ou ruim, só existe na troca. A cada ação corresponde uma reação.

A descrição pura e simples (física) de cada personagem achei difícil e sem graça, uma vez que há um entrelaçamento entre eles. Optei por descrever também cada comportamento e a razão por que, teoricamente, existem.