Onde está o pingo?

21-04-2016 15:57

­­ Onde está o pingo?*

Está enroladinho como se feto fosse, para poder se esconder e chorar.

Onde?

Por que queres saber? As lembranças apertam seu peito sofrido. Sonha enlevado e saudoso. Lembra-se das mãozinhas gorduchas segurando firmemente o lápis na escrita cursiva.

Cursiva?, mas o que é isso?

Letras desenhadas cuidadosamente e perfeitamente legíveis.

É claro que esses dedinhos, que hoje deslizam sobre as telas ou desenham letras que mal conseguem soletrar nunca ouviram falar nesse palavrão.

Ah! ... Como se lembra de sua importância, auxiliando o jota, ou juntando-se a outro quando enumerava ou enunciava...  E quando eram três?  Como se sentiam fortes porque deixavam as palavras ditas fortemente pronunciadas, ou quando queriam fazer suspense...

Saudades. Enroladinho se abraça à lágrima ou à gota da chuva ou do suor, semelhantes pelo menos no formato. Só assim sente-se mais forte.

Que foi importante, isso lá foi!  Hoje é como uma roupa que não serve mais. Atualmente, com o advento da tecnologia, ele está lá, nos teclados prontos. Mas, quem diz que o reconhecem? Também, como dizem, não faz falta. As letras pouco se juntam ou são dispensadas, e mais parecem onomatopeias.

Diz o ditado popular: “para quem sabe ler, um pingo é letra”. E eu digo: por favor, vamos colocar os pingos nos is, ora bolas.  Para quem sabe ler, pingo é pingo e letra é letra; para quem não o sabe, não existe pingo... nem letra.

 Não ligo nem um pingo com o que fazem comigo. Mas existo, e com muita força ainda. E pingo, ou melhor, ponto final.

 

* Texto elaborado com base na construção/desconstrução de metáforas e ideias metafóricas, relativo à primeira lição da Oficina 2016.