Melodia

25-03-2014 15:39

Quando eu li o livro “Tenha um pouco de fé”, um dos capítulos me chamou a atenção. Seu título era “Outubro- Velhice”.

Neste livro, o autor Mitch Albom, entrevista o Rabino Rebbe. Ele passa longo tempo com seu entrevistado, para conhecê-lo melhor. Num trecho desse capítulo, ele pergunta a Rebbe:

- “O que as pessoas mais temem com relação à morte?”

Após um breve reâmbulo, Rebbe sussurra:

- “Ser esquecido”.

Após uma pausa, Rebbe cita um lindo poema de Thomas Hardy, que faz Mitch, o entrevistador, se lembrar de um cemitério que havia perto de sua casa, cujas sepulturas datavam do Século XIX. Lá, não mais se colocavam flores. As pessoas simplesmente passavam e comentavam: como é antigo!

O poema que Rebbe citou, fala de um homem em meio às lápides, conversando com os mortos. As almas dos que tinham morrido recentemente lamentavam as mais antigas, que já haviam desaparecido da memória. Um dos versos diz o seguinte:

“Estão praticamente esquecidas,

São como homens que não existiram,

Sua perda vai além da respiração

É a segunda morte!”

 

- “A segunda morte! Pensar que você morreu e que ninguém mais vai lembrar você.” 

Disse o Rebbe. Então, Mitch pergunta:

- “Podemos evitar a segunda morte?”

- “A curto prazo, a resposta é simples: família.” 

Respondeu o rabino. E continuou explicando:

- “É através de meus familiares que espero continuar vivendo, por algumas gerações. Enquanto rezarem por mim, continuarei vivendo. Enquanto se lembrarem de mim, continuarei vivendo.Mas isso é limitado!”

 

O autor desse livro não ousou fazer a outra pergunta que tem nos perturbado: 

- E a longo prazo, como podemos evitar a segunda morte?

Na sua sabedoria iluminada, Cora Coralina chega perto de respondê-la. Leia a 3ª. Estrofe da poesia “Aninha e suas pedras”, e você terá a resposta:

“Faz de tua vida mesquinha um poema

E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.”

Mas, Cora vai mais além! Numa de suas famosas frases encontraremos como essa sua afirmação pode se realizar!

Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico, na música de seus versos.”

 

Coragem para lutar, mesmo perante as perdas.

Ousadia para plantar flores nas pedras.

Repensando a vida em seu cotidiano,

Apenas mexendo o tacho, ano após ano.

 

Coração livre. De sua mente aberta

Os versos brotam como por encanto,

Recriando para si novo destino.

Alma de poeta num corpo feminino,

Lírica e pura ela desabrocha

Irradiando perfume aos quatro ventos.

Nova mulher renasce na poesia.

Aninha agora é Cora Coralina.