Ô Borges!

13-05-2016 16:41

Poema que remete ao desafio do conto de Borges - "A biblioteca de Babel".

 

Ô Borges,

Que presente complicado me destes,

Mostrou-me a biblioteca como universo,

Nos seus excessos do saber, com pouco a revelar.

 

Tive sim,

A angústia de procurar, sem encontrar

Nesta tua biblioteca infinita,

Soluções nesta linguagem aleatória sequenciada.

 

Tive não,

A felicidade de saber que eu estava ali,

Nas folhas indecifráveis do escrever,

Com símbolos que nada queriam dizer.

 

Tive talvez,

A certeza de não chegar ao fim,

Sem fim para contar sobre mim,

Um livro perdido por ninguém,

Uma vida achada no além.

 

A descoberta de saber sem saber,

Tudo é verdade no que foi,

Sem dizer se ainda é verdade no que é.

O decifrador sabe, mas não diz,

Mastiga o seu silêncio sem dizer.

 

Ô Borges,

Que confusão tudo isso,

Hexágonos, livros, símbolos,

E ainda sobrou-me a inquietude do bibliotecário,

A procurar eternamente o livro das soluções.

 

Fazer de tudo a Babel e organizar,

Para o enigma perpetuar,

No circulo perfeito do saber.

Voltando sempre ao ponto de partida,

Somente para morrer.