Ô Borges!
Poema que remete ao desafio do conto de Borges - "A biblioteca de Babel".
Ô Borges,
Que presente complicado me destes,
Mostrou-me a biblioteca como universo,
Nos seus excessos do saber, com pouco a revelar.
Tive sim,
A angústia de procurar, sem encontrar
Nesta tua biblioteca infinita,
Soluções nesta linguagem aleatória sequenciada.
Tive não,
A felicidade de saber que eu estava ali,
Nas folhas indecifráveis do escrever,
Com símbolos que nada queriam dizer.
Tive talvez,
A certeza de não chegar ao fim,
Sem fim para contar sobre mim,
Um livro perdido por ninguém,
Uma vida achada no além.
A descoberta de saber sem saber,
Tudo é verdade no que foi,
Sem dizer se ainda é verdade no que é.
O decifrador sabe, mas não diz,
Mastiga o seu silêncio sem dizer.
Ô Borges,
Que confusão tudo isso,
Hexágonos, livros, símbolos,
E ainda sobrou-me a inquietude do bibliotecário,
A procurar eternamente o livro das soluções.
Fazer de tudo a Babel e organizar,
Para o enigma perpetuar,
No circulo perfeito do saber.
Voltando sempre ao ponto de partida,
Somente para morrer.