Remix Ferreira Gullar
Texto em prosa remixando versos de Ferreira Gullar. Em negrito, os versos do peota estudado.
Dispersão e disperdício
A leitura de mais um livro terminou !.....Que pena !......... A estória deste belissimo romance de aventuras, fantasmas e conquistas me fascinou e me transportou longos anos de volta na minha própria trajetória e sem querer eu sinto que estou disperso nas coisas, nas pessoas, nas gavetas: de repente encontro ali partes de mim:
A dispersão me leva de volta aos tempos de ginásio, quando eu pedalava minha bicicleta 7 km para chegar na escola e um pouco menos para voltar para casa. Na ida eu atravessava, no centro da cidade, um belo parque público à pé, empurrando a magrela, porque era proibido andar de bike; mas na volta, para chegar mais depressa em casa, pois a fome já marcava presença, eu encurtava bastante o caminho , atravessando um grande cemitério, pedalando minha bike. Local propício para brincadeiras de mau gosto. Assim me assustei muitas e muitas vezes, tremendo feito vara verde, com gritos imitando vozes do além e outras insinuações de possiveis "gasparzinhos camaradas". Compartilhei estes medos com colegas até que eu entendi que manifestações "não-terrestes" nunca acontecem de dia e portanto eram os rapazes da escola brincando com assuntos do outro mundo. Não dei mais atenção à estes "Fantasmas do Meio-Dia". Decepção para os fajutos fantasminhas, mas tranquilidade para mim.
Lembro de meu pai, sempre tão austero e exigente comigo, lembro que ele escreveu um versinho para mim no meu caderno de versos, confecçionado por mim em 1948-1950? Onde será que eu guardei? Deve estar em alguma gaveta !........
Abro uma gaveta e outra à procura do verso manuescrito por papai e encontro tambem um bilhetinho amoroso de meu marido que ele escreveu para mim no hospital , enquanto eu ainda dormia anestesiada. Fotos do meu filho ainda bebê, depois maiorzinho brincando com o cachorro.
Quantas lembranças me levam de volta ao passado, e eu entendo que de repente encontro ali partes de mim tambem.
Mas chega de nostalgia, o presente pede minha atenção para a vida atual ! Tenho obrigações diárias a cumprir.
Tenho minha casa para zelar, as plantas no jardim aguardam minha atenção e principalmente tenho que cuidar muito bem de mim.
As vezes, durante um passeio pelas lojas, torna-se dificil comprar sómente o necessário, a vontade de adquirir alguns objetos atrativos, lindamente expostos nas vitrines, mas que certamente não serão usados, se faz presente. Porem evitar o desperdício, posso aprender com a própria vida, pois que a vida só consome o que a alimenta.
E, tentando seguir o bom exemplo, imito o que a vida nos ensina e, sendo assim, me contento apenas em admirar o que acho bonito.