Uma história verdadeira

10-06-2013 12:04

Uma história verdadeira

(Esse texto refere-se a um exercício de narrativa proposto no 2° Semestre de 2012)

 

Introdução: “Histórias que só existem quando lembradas”. Este é o título do filme da brasileira Julia Murat, ganhadora da menção especial do Prêmio Horizontes Latinos, do Festival Internacional de Cinema 2011, realizado em San Sebastián, Espanha. E será este meu objetivo ao colocar no papel uma história que permanece até hoje na memória de duas meninas. Foi contada a gerações mais jovens, mas nunca foi registrada . Ao lembrá-la, pretendo dar-lhe VIDA, sob a forma de um conto.

 

Estamos no ano de 1932. A Revolução Constitucionalista vive sua fase final. Os soldados federalistas tomaram as últimas cidades do interior paulista.

Nessa época, minha mãe, com nove anos, morava no bairro Botafogo, em Campinas, numa rua perto da estação ferroviária da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Numa tarde em que pipocavam os acontecimentos do final da Revolução,  minha mãe e sua irmã de sete anos escutaram, na rua, que soldados tinham arrombado as portas dos galpões anexos à estação de trem, onde estavam guardados muitos gêneros alimentícios, deixando tudo à mercê da população.

Como toda criança curiosa, elas seguiram alguns populares até os armazéns. Chegaram lá quando ainda havia poucas pessoas, e entraram num deles, movidas pela curiosidade. O local logo ficou cheio, e as pessoas começaram a abrir as embalagens e a saquear os produtos. Até elas pegaram algumas coisas que cabiam em suas pequenas mãos.

Então, mais e mais pessoas foram chegando ao local, e as meninas ficaram impedidas de sair. Elas subiram nas caixas empilhadas junto à parede, olhando, assustadas, aquele bando que lotava o recinto, e procurando um caminho para a saída.

Foi quando delas se aproximou um homem negro, alto e forte, que, sem dúvidas, tinha avistado de longe o desespero das duas meninas. Ele disse a elas: “Não tenham medo, vou tirar vocês daqui.”

Em seguida, colocou as meninas uma em cada ombro e foi andando, com dificuldade, por entre a massa humana, dirigindo-se ao portão da entrada. Lá chegando, desceu-as com cuidado e colocou-as na calçada, dizendo, em voz baixa mas com autoridade: “Voltem logo para casa. Aqui não é lugar pra criança!”

Minha mãe e minha tia correram em disparada, sem olhar para trás, e nunca mais viram aquele homem.

 

Epílogo: divagações da autora

O conto acabou, mas a emoção me faz continuar...

Talvez, se elas tivessem arriscado olhar para trás, por um segundo que fosse, poderiam ter visto um grande par de asas, saindo dos ombros daquele homem, que voltou para casa com as mãos abanando, por escolher salvar duas meninas desconhecidas.

Como seria bom se Deus, em sua infinita bondade, programasse, lá no céu, um novo encontro entre o Anjo Negro e as meninas que, um dia, ele ajudou, para que elas pudessem lhe dizer: “MUITO OBRIGADA!”